Folclore e parafolclore, a arte e a educação | |
Parafolclore | |
O termo parafolclore tem sido motivo de infindáveis discussões entre estudiosos do folclore. Verifico, dessa forma, a importância de contribuir para a melhor compreensão desse assunto, buscando aproximação com a arte e a educação. No primeiro item do capítulo IX da carta do Folclore Brasileiro, escrita em 1995, por estudiosos e pesquisadores sobre o Folclore, encontramos uma definição para grupos parafolclóricos: 1. São assim chamados os grupos que apresentam folguedos e danças folclóricas, cujos integrantes, em sua maioria, não são portadores das tradições representadas, se organizam formalmente, e aprendem as danças e os folguedos através do estudo regular, em alguns casos, exclusivamente bibliográfico e de modo não espontâneo. | |
O estudo do folclore | |
Folclore, que significa saber popular, tem o seu conhecimento basicamente transmitido oralmente, e tem, por oposição, o saber transmitido pela instrução organizada, em especial pela escola e pelo livro, que é o ensino dominante numa sociedade considerada civilizada. De acordo com a definição contida na carta, acredito que o uso do termo parafolclore seja uma forma de exprimir uma manifestação didatizada e erudita do folclore. A transformação do fato popular em uma forma culta de apresentação tem sua principal diferença verificada na sua funcionalidade. Enquanto observamos que a função da manifestação folclórica autêntica está relacionada com aspectos da vida social e cultural do agente ou da localidade, no seu aspecto erudito ela é transformada para ser apresentada com outros valores, como recreativo, educativo, estético, lúdico, físico, informativo e formativo entre outros. Para o folclore é característica necessária a sua aceitação coletiva, que o fato seja comum a uma localidade, que pode mudar ou não sua forma de apresentação devido a sua plasticidade, mas mantendo sua função. Fernandes (1978) afirma que: "o Folclore constitui uma realidade social, dinâmica e complexa, em constante transformação, cujos elementos existem como parte de um todo, integrado a um contexto sociocultural que lhe dá forma, significado e função, constituindo elementos que traduzem a autêntica dimensão da vida em sociedade". A própria coletividade pode mudar o fato, como temos observado nas festas em louvor à Nossa Senhora do Rosário, em Dores do Indaiá (MG), com a mudança de passos e trajes dos grupos a cada ano, ou no Bumba-meu-boi, de São Luís do Maranhão, com a agregação de elementos satíricos atuais nas suas apresentações. Mas a função folclórica permanece. No caso do parafolclore, a premissa é diferente, pois a função é outra, à qual os elementos presentes se adequam. O que deve existir sempre é o estudo e o conhecimento sobre o assunto, pois tão importante quanto à pesquisa do fato folclórico em si é a forma como ele será projetado. Por isso me agrada mais a expressão projeção folclórica, pois é o próprio fato folclórico que irá baseá-lo. Esta expressão dá maior credibilidade ao trabalho que for realizado, pois estará representando com maior fidelidade ao fato de origem. Os trabalhos de pesquisa nas projeções folclóricas deverão ser respaldados pelos métodos científicos existentes e que norteiam as pesquisas na área de folclore. | |
Parafolclore, arte e educação | |
Mas o que me parece mais importante é refletir o parafolclore como questão relacionada à arte e educação. Por se tratar também de manifestação artística na forma e conteúdo, o artista que utilizar a projeção folclórica terá a liberdade de expressar o seu trabalho com caráter único, pois a visão da arte é específica e vai de acordo com as experiências vividas pelo seu autor. Contudo, a expressão artística deverá ter o cuidado de ser baseada em estudos que não agridam a manifestação autêntica, sendo coerente com a pesquisa realizada sem perder a particularidade na criação do trabalho. Se a intenção da projeção folclórica for apenas copiar o fato existente não trará nada a acrescentar em termos de arte. É importante ficar claro para o público qual o tipo de trabalho a que ele irá assistir. Assim não haverá a ocorrência de competição entre as manifestações que já são diferentes entre si, como ficou registrado no 2o item da carta: 2. Recomenda-se que tais grupos não concorram em nenhuma circunstância com os grupos populares e que, em suas apresentações, seja esclarecido aos espectadores que seus espetáculos constituem recriações e aproveitamento das manifestações folclóricas. Mas como traduzir e conciliar as divergências e indefinições no uso do folclore como arte projetada? Um ponto importante a destacar é que em diversos idiomas a palavra folclore é empregada por vezes com sentido pejorativo, como algo que apavora e causa medo nas pessoas, ou designando assunto pouco sério, ou sinônimo de fantasia, mito, ou lenda. Neste sentido, acredito que a projeção folclórica possa, através da arte, estar trabalhando em prol de uma mudança estrutural de conceitos, contribuindo para uma melhor aceitação do fato folclórico. Além disso, este conhecimento contribui para adoção de uma postura não preconceituosa e discriminatória diante das manifestações e expressões dos diferentes grupos étnicos e sociais. Como forma de contribuir para este estudo acredito que a projeção folclórica dentro dos trabalhos artísticos dos grupos, possa utilizar de algumas mudanças na pesquisa realizada com o autêntico, como por exemplo: - os figurinos, elaborados e inspirados na manifestação autêntica, podem ser confeccionados de modo a serem adequados a um palco. - As confecções de adereços também podem sofrer mudanças na sua forma para dar maior versatilidade aos movimentos coreográficos. - As músicas podem sofrer modificações de andamento e podem também ser inspiradas em ritmos e expressões folclóricas, cujos originais sejam difíceis de compreender ou já não existam mais. - As danças podem ser baseadas nos passos autênticos observados na pesquisa realizada, ou podem ser inspiradas em sua história caso não exista mais a forma original. Sua coreografia ou a forma de apresentação deverá, entretanto, ser de autoria e competência do coreógrafo, pois irá possuir qualidades exigidas para uma função informativa, estética, educativa ou artística, que será diferente da função original. O que irá confrontar o trabalho dos diversos grupos de parafolclore não é o fato de ser menos ou mais folclórico que o outro, mas sua capacidade de estar interpretando o fato folclórico da melhor maneira possível dentro de certa função, pois segundo a carta do Folclore Brasileiro, "Dança parafolclórica é a dança folclórica que é executada fora do seu local de origem transformada em espetáculo teatral, por possuir qualidades exibicionistas." Já a dança folclórica acontece sem a intervenção de um coreógrafo, obedecendo a uma seqüência de passos criada pela repetição e tradição em sua relação íntima com a vida de uma coletividade, que a aceita como forma de representação de um fato ou acontecimento importante ocorrido na comunidade, respaldada pela importância de sua função social. Neste sentido, todos os grupos que apresentam trabalhos inspirados na cultura popular, são de projeção. Pelo fato da dança folclórica ser uma das formas mais representativas de um povo pela expressão espontânea com que acontece, ela pode ser de grande valor educativo, fazendo a convergência de diversos assuntos, tornando possível estudá-los de forma interdisciplinar nas escolas, o que muitas vezes só será possível através da projeção folclórica. Mas como mostrar aos alunos festas ou danças de locais distantes, já que na maior parte dos casos é impossível até bibliografia ou outras formas de divulgação destas manifestações? Aliás, um dos maiores problemas relatados por professores tem sido a falta total de materiais, livros, vídeos, danças e músicas para demonstrar aos alunos a riqueza cultural do país. Esta falta pode ser suprida por grupos de projeção. Abordo esta função educativa do parafolclore, citando o terceiro item existente na carta do folclore brasileiro que deixa claro a importância dos grupos parafolclóricos como forma de ensino e atração turística: 3. Os grupos parafolclóricos constituem uma alternativa para a fábrica de ensino e para a divulgação das tradições folclóricas, tanto para fins educativos, quanto para atendimento a eventos turísticos e culturais. A utilização das diversas manifestações populares como forma e meio turístico de determinada localidade é evidente. A força das comemorações é alvo de festivais, festas e espetáculos que atraem milhares de turistas, interessados em identificar a cultura daquele povo, proporcionando grande avanço na economia local e empregos para a região. Não é surpreendente então observar que o fato folclórico pode ser transfigurado de sua função autêntica, seja ela sagrada ou profana, para ser também valorizado por interesses locais. O cuidado para isso deve ser a valorização e o apoio às instituições que realizam de forma espontânea estas comemorações. Com relação aos estudos do parafolclore relacionado à educação, vários autores citam a importância deste trabalho como elo de ligação entre a cultura popular e a erudita. | |
O ensino erudito e a prática popular | |
Como reforço a esta reflexão, verifico o total desconhecimento dos discentes da disciplina de folclore do curso de Educação Física da UFMG de manifestações folclóricas existentes nos seus próprios bairros. Em nossas aulas, são realizadas pesquisas nas suas localidades e depois elaborados projetos didáticos para a utilização destes estudos como conteúdo escolar. Assim, ocorre uma maior aproximação entre o que é ensinado eruditamente na universidade e a cultura popular. Os resultados são a visível surpresa dos alunos com as possibilidades de ensino e aprendizado que estas manifestações são capazes de proporcionar. Em um trabalho recente realizado no mestrado em educação, venho questionando o assunto da didatização da cultura popular, como isto vem ocorrendo e de que forma podemos auxiliar na busca de melhores desempenhos, já que são infinitas as capacidades de ensino através do folclore, ou da projeção folclórica. Segundo estudiosos, o folclore não é ensinado, o que existe é a projeção deste fato como forma de ensino, ou seja, o parafolclore. Na mesma carta do Folclore Brasileiro, na seção que trata do ensino e educação, observamos a vontade de tornar o folclore mais presente nas escolas, como por exemplo, nos itens: (1-) Desenvolver ação conjunta entre os Ministérios da Cultura e da Educação a fim de que o conteúdo do folclore e da cultura popular seja incluído nos níveis de 1o e 2o graus e incluindo enfoque teórico e prático através do ensino regular, de oficinas, de observações e de iniciação às pesquisas bibliográficas e de campo. (2-) Envolver os educadores de diferentes matérias em torno do folclore, considerando-o um amplo campo de ação para os estudos e a prática da multidisciplinaridade. Instruir os professores para que motivem seus alunos, em tais datas, a estudar manifestações do seu próprio universo cultural. (3-) Promover a articulação entre pesquisadores e professores no sentido da participação na coleta e organização de coletâneas que reflitam as diversidades culturais regionais, com vistas à sua divulgação, valorização e aproveitamento didático do acervo folclórico. O empenho da Comissão Nacional de Folclore, relatora da carta, em tentar promover e estimular o estudo e o ensino do folclore no Brasil, justifica-se. Em recente pesquisa, realizada em dez escolas da rede pública e dez da rede particular de ensino de Belo Horizonte, verifiquei que o estudo do folclore é raramente utilizado nas escolas. Confirmando a necessidade de mais estudos nessa área e a adoção dos ideais da carta, identifiquei a grande procura pelo curso Iniciação ao Folclore, oferecido pela Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte (agosto/1999), em parceria com a Comissão Mineira de Folclore. Participando desse curso como pesquisador, percebi a pouca familiaridade dos professores inscritos com este assunto. Nas entrevistas realizadas com eles, ficou clara a falta de informação e, sobretudo, a dificuldade em utilizar do conteúdo apreendido no curso, nas atividades diárias da prática docente. A existência de poucos estudos sobre a cultura popular e o seu reconhecimento como conteúdo curricular, contribui para esta dificuldade e contradiz o discurso dos documentos curriculares oficiais, PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais - 1996) e LDB (Leis das Diretrizes e Bases da Educação - 1996), cuja tendência tem sido a valorização dos estudos e das manifestações folclóricas do país. Entretanto, poucos pesquisadores se dispõem a estudar o folclore relacionado à educação, provavelmente desestimulados por alguns trabalhos nos quais as manifestações folclóricas são tratadas como algo pitoresco, algo superado ou em vias de superação. De acordo com Saul Martins, em recente discurso, a palavra folclore, quando relacionada à educação ou à arte, deveria ser substituída pela expressão brasileira: cultura popular tradicional. Concordo, pois evitaríamos assim o preconceito que já existe sobre a palavra. Entretanto, devemos ter cuidados com trabalhos que insistem em ver as manifestações da cultura popular como sobrevivência do passado no presente, como práticas cristalizadas, imutáveis. Estas manifestações são parte de um contexto sociocultural, historicamente determinado, que as explicam e tornam possível a sua existência e, ao se modificarem, fazem com que as práticas culturais também se modifiquem. A diversidade cultural que caracteriza o Brasil tem na cultura popular uma das suas expressões mais significativas, constituindo um amplo leque de aprendizagem. Os aspectos do folclore brasileiro, através da dança, da música, da literatura, da linguagem e de tantas outras manifestações já citadas, têm tido espaço dentro das escolas? A escola está preparada para receber estes conteúdos? Rauch (1996), apud Verassani (1998), ressalta a tribalização como forma de segurança, de defesa da identidade cultural: "Cada vez mais se torna importante uma ação educacional no sentido de formar cidadão do mundo, sem perder suas raízes culturais; aceitar a mundialização da cultura sem renunciar à sua própria cultura." Gadotti (1993), também defende que a educação pós-moderna encontra-se em um ambiente multicultural e que o indivíduo precisa se afirmar ante a globalização: A ação educadora deve respeitar a diversidade cultural, as minorias étnicas, as religiões, os direitos humanos e ampliar horizontes do conhecimento e do mundo. O ensino e valorização da cultura popular estão previstos em diversos documentos curriculares oficiais, e hoje alcançam grande projeção nos chamados estudos multiculturais. Entretanto, devemos nos libertar das limitações precisas, dos conceitos arcaicos, buscando compreender os novos tempos para ampliar os nossos horizontes de atuação, estimulando as pesquisas e ampliando o espaço para atividades baseadas na legítima cultura popular brasileira, sejam elas relacionadas à educação ou à arte. Tarefa difícil de compreender para quem se mantém preso às delimitações conceituais, pois transformação sempre assusta. | |
Bibliografia | |
ÁLVARES, Márcia de Andrade. Cultura Popular e Cidadania. Revista da Comissão Mineira de Folclore. Editora Cultura - Belo Horizonte, 1998 ANDRADE, Mário de. Danças Dramáticas do Brasil. Martins Editora - São Paulo, 1959 ASSIS, Regina Alcântara de. (Relatora): Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Homologada em 31 / 08 / 1998, Parecer No CEB 04/98, da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação – Brasília, 1998. AYALA, Marcos e Maria Ignez. Cultura Popular no Brasil. 2a Edição, Editora Ática - São Paulo,1995. BRASIL, Leis de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Lei no 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física / Ensino Fundamental - Temas transversais / Diversidade Cultural, 1996. BRASIL, Comissão Nacional de Folclore, vários autores. Documento Final da Carta do Folclore Brasileiro - VIII Congresso Brasileiro de Folclore - Salvador, 1995 | |
GUSTAVO CÔRTES. BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS:
Brincadeiras Populares ou brincadeiras Folclóricas, são aquelas
brincadeiras antigas e que são passadas de geração para geração mantendo suas
regras básicas de origem. Muitas delas existem há séculos, e por vezes costumam
ter variações ou sofrer modificações de acordo com a região do Brasil, porém os
objetivos das brincadeiras são sempre os mesmos. A preservação destas
brincadeiras é muito importante pra a preservação da história e do folclore do
nosso país. O mês de Agosto é dedicado ao folclore por isso por isso o Portal
Brasil Cultura apresenta abaixo algumas brincadeiras famosas e interessantes
que ainda hoje agradam as crianças de diversas faixas etárias.
Pipa: Também
conhecida como papagaio, pandorga, raia, é geralmente uma brincadeira para
meninos, e são feitas de papel de seda colorido e varetas de madeira. Em dia de
vento as pipas são soltas pelos meninos, através do fio que as prende a um
carretel o menino pode manusea-la nos céus. Entretanto é bom lembrar que as
pipas não vem ser soltas perto da rede elétrica já que a mesma pode
encostar num fio do poste e causar um choque violento. O bom é soltar a pipa na
praia, ou no campo.
Esconde-esconde: A criança tem
de se esconder e não ser encontrada, a criança que deverá procurar os demais
elementos do grupo deve permanecer de olhos fechados e contar até 10 para que
todos tenham tempo de se esconder. Após a contagem, a criança sai em busca dos
amiguinhos que estão escondidos. Para ganhar, a criança que está procurando
deve encontrar todos os escondidos e correr para a base.
Pega-pega: Esta
brincadeira envolve muita atividade física. Uma criança deve correr e tocar
outra. A criança tocada passa ter que fazer o mesmo.
Bolinha
de gude: Bolinhas coloridas e feitas de vidro, são jogadas num circulo
feito no chão de terra pelos meninos. O objetivo é bater na bolinha do
adversário e tira-la de dentro do circulo para ganhar pontos ou a própria
bola do colega.
Bate
figurinha: Os meninos reúnem as figurinhas dos álbuns que são repetidas, fazem um
montinho e batem a mão sobre elas, as que virarem ao contrário é ganha por quem
bateu a mão. O jogo é feito de comum acordo entre todos, e só vale bater
figurinhas repetidas para que ninguém saia no prejuízo.
Roda
Pião: Feitos de madeira, os piões são rodados no chão através de um
barbante que é enrolado e puxado com força. Para deixar mais emocionante
a brincadeira, muitos meninos fazem malabarismo com os piões enquanto eles
rodam. O mais conhecido é pegar o pião com a palma da mão enquanto ele está
rodando.
Além de todas estas brincadeiras antigas também temos no folclore
brasileiro muitos contos, danças, festas e lendas que podem divertir as
crianças e transmitir-lhes a nossa cultura popular
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CURIOSIDADES FOLCLÓRICAS
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